terça-feira, 3 de abril de 2012

Lucenzo: o nome por trás da trilha de Avenida Brasil



Cantor Lucenzo fala sobre a criação do hit de kuduro que o deixou famoso e os percalços que tem enfrentado para se tornar famoso no Brasil


No balcão da lanchonete, um grupo de cinco garçonetes se amontoa ao lado da máquina de café. “Olha lá, olha lá. É ele!”, aponta uma. “É sim, como é mesmo o nome dele? Não é o Latino, né?”, responde a outra. “Não, é aquele da dança ‘com tudo’”, conclui a “fã”. O “com tudo” na verdade é o kuduro, gênero musical angolano que transformou o cantor mezzo português mezzo francês Lucenzo em estrela mundial -- sem ele nunca ter ido a Angola – e que agora tem tudo para se tornar hit nacional por causa da abertura da nova novela das nove da Globo, Avenida Brasil.

A confusão com Latino descrita na cena acima, ocorrida em São Paulo, pode surgir porque, no ano passado, o músico brasileiro fez uma versão não autorizada de Vem Dançar Kuduro, o hit com que Lucenzo fez fama. Mas as comparações, segundo ele, param por aí. “A versão de Latino é ruim”, afirma o cantor, que já acionou o brasileiro legalmente. O kuduro também fica um pouco restrito ao nome da música, que foi criada a partir de uma combinação com outros gêneros -- entre eles, reggaeton, hip hop e dance music. A mistura cafona de ritmos populares e dançantes rapidamente conquistou a América Latina, Europa e Estados Unidos, onde a faixa foi usada na trilha sonora do filme Velozes e Furiosos 5.

Em português de Portugal, e também no da ex-colônia portuguesa Angola, kuduro significa, literalmente, “bumbum duro”, uma referência explícita à forma rebolativa com que se dança o ritmo. E, apesar de não ter cunho pejorativo algum na língua lusitana, o termo poderia ter baixa receptividade no Brasil, onde, para começo de conversa, se inicia com um palavrão. Por isso, a mudança da expressão kuduro para “com tudo” no tema de abertura de Avenida Brasil, que tem uma versão da dupla Robson Moura e Lino Krizz para Danza Kuduro, canção original de Lucenzo. “Eu entendo a mudança, porque os brasileiros são loucos por novela, todo mundo assiste. Sei que a palavra não tem o mesmo significado aqui e algumas pessoas poderiam se sentir ofendidas”, afirma Lucenzo.

Tranquilo quanto ao rebatismo do gênero, Lucenzo diz que essa está longe de ser a maior dificuldade que enfrentou no país. Para o cantor, que alcançou fama mundial com Vem Dançar Kuduro, a música popular tende a ser um tanto bairrista no Brasil. “Trata-se de um mercado muito fechado e muito difícil. Quando cheguei aqui, só ouvi musica brasileira. Ninguém conhece os artistas que são famosos no mundo todo, como Sean Paul e Pitbull... Alguns até conhecem, mas não muito.”

Não que ele reclame. Afinal, ele conquistou um público maior no país ao ser convidado por uma artista brasileira – Claudia Leitte – para cantar no Carnaval. “Foi uma experiência muito boa. Eu nunca tinha visto algo igual ao Carnaval, e Claudia Leitte é uma grande artista”, diz Lucenzo, que também conheceu Psirico e Michel Teló.

O começo de tudo – Antes, muito antes de desembarcar no Brasil, onde também aproveitou para fazer turnê por algumas cidades, o músico conquistou a fama da forma mais tradicional possível. Filho de agricultores portugueses que se mudaram para a França em busca de uma vida melhor, o cantor conviveu com a música, uma paixão familiar, desde a infância. O pai, por exemplo, tocava piano. Lucenzo chegou a tentar a sorte em outros ramos (por algum tempo, trabalhou como operário em construções), sem sucesso. “Não me sentia bem naquilo. Sabia que minha vida não era essa, que meu destino era outro.” Até que resolveu gastar todas as suas economias na compra de equipamentos de som amadores e na gravação de um disco sozinho, em seu próprio quarto. “Tenho música no sangue, não poderia imaginar minha vida sem ela. Acho que, quando você nasce, ou tem a música no sangue ou não tem. Acho que eu nasci para isso. Acho, não. Tenho certeza”.

Lucenzo pode até ter seu talento posto em cheque, mas o sucesso é inegável. A música passou semanas no topo das listas de mais tocadas em vários países europeus, rendeu a ele um prêmio Billboard e o clipe se tornou um dos dez mais vistos da história do YouTube. Isso sem falar no retorno financeiro. Vestindo marcas famosas da cabeça aos pés, o cantor evita falar em números. “Posso dizer que, hoje, avancei na vida. Ganhei dinheiro, tenho meu próprio estúdio, comprei equipamentos profissionais. Gastei bastante também (risos). Só sinto pena de não estar mais perto da minha família, da minha mãe. Sou muito ligado a eles e quase não os vejo mais. Mas sei que tenho que aproveitar o momento, porque agora estou em alta.”
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